domingo, 6 de novembro de 2016

Soneto do desmantelo azul

Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir de nós o azul ausente
e aprisionar o azul nas coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos no azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul: azul.


*Carlos Pena Filho*
Em “Os Melhores Poemas de Carlos Pena Filho”, São Paulo, 
Editora Global, 4ª Edição, 2000.

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