sábado, 5 de novembro de 2016

Cantares

I

Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua de estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.

Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.
Que este amor só me veja de partida.


[...]

IX

[...]

Mas assim mesmo
Canta! Ainda que se desfaçam ilhargas, trilhas...
Canta o começo e o fim. Como se fosse verdade
A esperança.


*Hilda Hilst*
Em “CANTARES DO SEM NOME E DE PARTIDAS”, São Paulo, MASSAO OHNO -
 M. LYDIA PIRES E ALBUQUERQUE EDITORES, 1ª Edição, 1995.

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