domingo, 7 de agosto de 2016

Oração da Noite

Trabalhei, sem revoltas nem cansaços,
No infecundo amargor da solitude:
As dores, − embalei-as nos meus braços,
Como alguém que embalasse a juventude...

Acendi luzes, desdobrando espaços,
Aos olhos sem bondade ou sem virtude;
Consolei mágoas, tédios e fracassos
E fiz, a todos, todo o bem que pude!

Que o sonho deite bênçãos de ramagens
E névoas soltas de distância e ausência
Na minha alma, que nunca foi feliz.

Escondendo-me as tácitas voragens
De males que me deram, sem consciência.
Pelos míseros bens que sempre fiz!...


*Cecília Meireles*
Em “Nunca Mais... e Poemas dos Poemas”, São Paulo, Editora Global, 2ª Edição, 2015.

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