terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Realidade

Em ti o meu olhar fez-se alvorada
E a minha voz fez-se gorjeio de ninho,
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho.

Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada,
E a minha cabeleira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho.

Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci...

Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei, se te perdi...


*Florbela Espanca*

Em “Poemas de Florbela Espanca”, São Paulo, Editora Martins Fontes, 7ª Edição, 2005.

2 comentários:

Brilho disse...

Rimance do Sofrimento

Tua dor nun riso esculpe-a.
Não chores teu pranto, vence-o,
porque há uma estranha volúpia
em se sofrer em silêncio.

Sê como o rio: entre tanta
urze e espinho flui, resvala.
Chora, mas finge que canta,
canta e rola, sofre e cala.

Vês o rio? As águas tontas
cortam-nas seixos, mas brando,
por sobre um leito de pontas
vai sofrendo e vai cantando.

Vai sofrendo, mas as mágoas
nos seus cânticos embala.
Minh'alma, sê como as águas:
canta e rola, sofre e cala.

Sê minh'alma à dor um cofre,
guarda-a avarenta e calada,
que a ventura de quem sofre
é sofrer sem dizer nada.

Menotti Del Picchia

-----------------------------
Os Rios

Magoados, ao crepúsculo dormente,
Ora em rebojos galopantes, ora
Em desmaios de pena e de demora,
Rios, chorais amarguradamente,

Desejais regressar... Mas, leito em fora,
Correis... E misturais pela corrente
Um desejo e uma angústia, entre a nascente
De onde vindes, e a foz que vos devora.

Sofreis da pressa, e, a um tempo, da lembrança...
Pois no vosso clamor, que a sombra invade,
No vosso pranto, que no mar se lança,

Rios tristes! agita-se a ansiedade
De todos os que vivem de esperança,
De todos os que morrem de saudade...

Olavo Bilac


Estimada Elaine,
Deixo-lhe meu terno e saudoso abraço.
Desejando que teus dias sejam
sempre, sempre abençoados!

Elaine Bastos disse...

Estimada BIluminado,

Bem haja por seu retorno a este espaço e pelos belos poemas, também!...
Miguel Torga, certa vez, em fevereiro de 1935, escreveu:

“Um amigo

Que belo é ter um amigo!
Ontem eram ideias contra ideias.
Hoje é este fraterno abraço a afirmar que acima das ideias estão os homens.

Um sol tépido a iluminar a paisagem de paz onde esse abraço se deu, forte e repousante.
Que belo e natural é ter um amigo!”

Isto, basta-nos...
Um fraternurento abraço para você!