sábado, 4 de dezembro de 2021

 “Segue-me

Eu sou o caminho, a verdade e a vida.
Segue-me. E eu te darei repouso e sombra na tua caminhada.
Afastarei pedras e farpas de teus pés caminheiros.
Abençoarei tuas mãos de trabalhador.
Farei do trabalho o lazer e aprazimento de tua vida.
Segue-me.

Esperando sempre confiante.
Eu te darei a certeza da vida eterna e curarei as dúvidas que te flagelam.
Terás alegria nos teus espaços, marcarás na terra caminhos de esperança.
O futuro se fará risonho e aberto aos que não veem e creem.
Segue-me.

Transformarei a tua vida e te levarei ‘a verdes pastos’.
Porei em tuas mãos o cajado do pastor e cuidarás do meu rebanho disperso.
Plantarás o trigo abençoado, o vinho da alegria e o linho da pureza.
Segue-me.

Eu te farei pescador de todos os errados e perdidos,
errantes pela Terra.

Ele passava pelo mercado público, lá estava o publicano Levi,
com os seus livros e folhas de argila, cobrando aos mercadores
os tributos de César.
Jesus olhou, alcançou o íntimo profundo e reservado do publicano e disse:
‘Segue-me’. Levi deixou suas pedras e números
e se fez discípulo ao lado do Mestre.

O pequeno Zaqueu, ‘homem baixo de estatura’,
queria ver o Mestre aclamado
e a multidão lhe tirava a visão.
Ele subiu numa árvore, queria ver, precisava ver o Cristo,
caminheiro nas terras da Judeia.
Jesus o viu antes que fosse visto e disse:
‘Desce desta árvore, Zaqueu, que hoje a salvação entrou em tua casa.’
Zaqueu partilhou seus bens com os pobres e tomou seu lugar ao lado do Mestre.
Segue-me.

O Moço procurou Jesus. Tinha tudo e cumpria os preceitos.
Que mais poderia fazer para merecer das promessas?
Renuncia ao que tens e terás o dobro do que contas.

Pedro lançava suas redes.
O Mestre passou e disse: ‘Recolhe tuas redes
e eu te farei pescador de homens’.
Segue-me.

Jovens e adultos, eu vos darei o que debalde buscais com afã,
um pouco de felicidade.
Farei ver o que está dentro de cada um, templo e morada do Espírito Santo.
Eu vos darei os sete dons do espírito e vos sentireis pleno
da sabedoria da vida, que debalde procurais.
Farei ver a vossa própria razão de vida e de morte,
responderei às vossas indagações.
Segui-me.

Os que governam, os que comandam.
Darei ocupação aos desocupados, saúde aos enfermos,
inteligência aos ignorantes.
Eu vos farei a luz da candeia acesa que vai na frente
e aclara o caminho escuro.
Segui-me.

Juízes que repartis julgamentos, eu vos darei
a balança da equidade e a certeza do Direito.
Segui-me.

Advogado que reivindicas Justiças aos que dela, carentes,
têm fome e sede.
Médico. Eu te darei a melhor ciência de curar dores alheias
e suavizar a partida dos que se vão.
Segue-me.

Vós todos, homens da terra, encherei as vossas tulhas
e o trabalho de vossos braços será um cântico para o alto.
Segui-me.

Todas as perdidas do mundo eu vos darei vestes novas
de pureza e de brancura.
Segui-me.

Ladrões e arrombadores.
Eu abrirei as portas do Céu e vos acharei fartos e fiéis.
Sereis guardas dos bens eternos.
Segui-me.

Presidiário, busca-me na solidão da tua cela
e eu te levarei no caminho da recuperação e da Paz.
Estou encostado a ti. Procura-me com o coração
daquele salteador condenado, a quem perdoei todos os crimes
pela força do arrependimento e esperança da salvação.
Chama por mim. Ouvirei o teu clamor.
Tomarei nas minhas tuas mãos armadas e farei de ti
um trabalhador pacífico da terra.
Segue-me.

Estou ao teu lado, sou tua sombra.
Abrirei os cárceres do teu espírito,
encherei de luz, não só tua cela escura,
senão, também, a cela escura do teu entendimento.
Segue-me.

Jovem, eu te livrarei do vício e do fracasso.
Da droga destruidora e te farei direito,
pelos caminhos entortados.
Segue-me.

Quem chama por mim não cansa nunca.
Quando tardo, estou no caminho.
Farei leve a tua cruz.
Um Simão Cirineu, porei ao teu lado.

Desalentados e descrentes.
Mulheres perdidas, viciados e criminosos.
Vos lavarei a todos na água do perdão,
se me procurardes de coração aberto.

Um ladrão, companheiro de minha cruz,
eu o levei ao Pai, pela força da palavra – ‘Senhor, lembrai-vos
de mim, quando estiverdes com vosso Pai.’
Eu o limpei de todos os erros e lhe foi dada a salvação.

Presidiário, que, roendo paredes e pedras,
ganhas a liberdade e voltas de novo à prisão
que abristes com a pua da tua vontade.
Se me seguires, nunca mais voltarás à prisão,
porque te porei nos meus caminhos.
Darei luz à tua cela escura e farei iluminada
a cela mais escura do teu espírito.
Segue-me.

Todos os perdidos da vida.
Não vim ao mundo para os que estão salvos,
e sim para os enfermos.
Farei de ti a candeia acesa,
guiando a caminhada dos cegos.

Senhor, os privilegiados, cerradas suas oiças
à palavra da renovação, davam-lhe as costas.
Não podiam suportar aquelas verdades da palavra nova,
e dissestes a um discípulo ao vosso lado:
‘Tu também queres me deixar?’

Este respondeu:
‘Senhor, aonde irei sem Vós? Tendes palavras de Vida Eterna.’
Jesus, eu sou aquele cego, surdo e mudo.
Tropeço nos caminhos errados.
Minha fé é frágil, o mundo me domina.
sustentai a minha fé.
Senhor! Aonde irei sem Vós?…


*Cora Coralina*
Em “Vintém de Cobre: meias confissões de Aninha”,
São Paulo, Editora Global, 10ª Edição, 2013.

Nenhum comentário: