domingo, 5 de fevereiro de 2017

O Soneto

Não maldigo o rigor de iníqua sorte,
Por mais atroz que seja e sem piedade,
Arrancando-me o throno e a magestade,
Quando a dous passos só estou da morte!

De jogo das paixões minh'alma forte
Conhece a fundo a triste realidade,
Pois, se agora nos dá felicidade,
Amanhã tira o bem, que nos conforte.

Mas a dôr que excrucia, a que maltrata,
A dôr cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e quasi o mata,

E' ver da mão fugir, á extrema hora,
A mesma bocca lisongeira e ingrata,
Que tantos beijos nella poz outr'ora!


*Pedro de Alcântara (D. Pedro II, ex-Imperador do Brasil)*
Em, “Pequena Edição dos Sonetos Brasileiros, organizados por Laudelino Freire”, 
Rio de Janeiro, Editora F. Briguiet & Cia., 2ª Edição, 1914.

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