domingo, 12 de fevereiro de 2017

O aluno

São meus todos os versos já cantados;
A flor, a rua, as músicas de infância,
O líquido momento e os azulados
Horizontes perdidos na distância.

Intacto me revejo nos mil lados
De um só poema. Nas lâminas da estância,
Circulam as memórias e a substância
De palavras, de gestos isolados.

São meus também, os líricos sapatos
De Rimbaud, e no fundo dos meus atos
Canta a doçura triste de Bandeira.

Drummond me empresta sempre o seu bigode,
Com Neruda, meu pobre verso explode
E as borboletas dançam na algibeira.


*José Paulo Paes*
Em “Poesia completa”, São Paulo, Editora Companhia das Letras, 2008.

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