“POR ESTE ANOITECER…
Por este anoitecer, o ano acaba.
Cinzento e azul no céu por entre as árvores,
acaba o calendário. Muitos crimes dele
serão futuras efemérides nos outros
que, folha a folha, acabarão também.
Como anoitece igual este ano às noites
com que, dia por dia, o ano foi passando
gregorianamente. O mundo ocidental,
cesáreo, atlântico, ex-mediterrânico,
conta do Cristo. Mas os outros mundos
também contarão dele, quando este ocidente
deixar de fingir dele − os deuses morrem −
para funções de calendário laico.
O tempo passa, os calendários mudam,
na vida e morte as horas se sepultam.
E, no entanto, o tempo vai conosco;
é desta Terra só, e só por haver outros
que de outros astros são por haver este
diverso tanto a cada movimento.
Por este anoitecer, o ano acaba.”
*Jorge de Sena*
Em “40 ANOS DE SERVIDÃO”, Lisboa,
Por este anoitecer, o ano acaba.
Cinzento e azul no céu por entre as árvores,
acaba o calendário. Muitos crimes dele
serão futuras efemérides nos outros
que, folha a folha, acabarão também.
Como anoitece igual este ano às noites
com que, dia por dia, o ano foi passando
gregorianamente. O mundo ocidental,
cesáreo, atlântico, ex-mediterrânico,
conta do Cristo. Mas os outros mundos
também contarão dele, quando este ocidente
deixar de fingir dele − os deuses morrem −
para funções de calendário laico.
O tempo passa, os calendários mudam,
na vida e morte as horas se sepultam.
E, no entanto, o tempo vai conosco;
é desta Terra só, e só por haver outros
que de outros astros são por haver este
diverso tanto a cada movimento.
Por este anoitecer, o ano acaba.”
*Jorge de Sena*
Em “40 ANOS DE SERVIDÃO”, Lisboa,
(Círculo de Poesia) Moraes Editores, 2ª Edição Revista, 1978.
Nenhum comentário:
Postar um comentário