domingo, 11 de dezembro de 2016

Diálogo de D. Benta com os seus netos logo após a leitura da fábula “O Cão e o Lobo”:
 
[...]

Fez muito bem! – berrou Emília. Isso de coleira o diabo queira...
Narizinho bateu palmas.
– E não é que ela fez um versinho, vovó? ‘Isso de coleira, o diabo queira...’ Bonito, hein?...
– Bonito e certo – continuou Emília. Eu sou como esse lobo. Ninguém me segura. Ninguém me bota coleira. Ninguém me governa. Ninguém me...
– Chega de
mes, Emília. Vovó está com cara de querer falar sobre a liberdade.
– Talvez não preciso, minha filha. Vocês sabem tão bem o que é liberdade que nunca me lembro de falar disso.
– Nada mais  certo, vovó!  –  gritou Pedrinho. Este seu sítio é o suco da liberdade; e se eu fosse refazer a natureza, igualava o mundo a isto aqui.
Vida boa, vida certa, só no Picapau Amarelo.
– Pois o segredo, meu filho, é um só: liberdade. Aqui não há coleiras. A grande desgraça do mundo é a coleira. E como há coleiras espalhadas pelo mundo!


*Monteiro Lobato*
Em “Fábulas”, São Paulo, Editora Brasiliense, 50ª Edição, 1994.

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