“Houve um poema
Houve um poema,
entre a alma e o universo.
Não há mais.
Bebeu-o a noite, com seus lábios silenciosos.
Com seus olhos estrelados de muitos sonhos.
Houve um poema:
Parecia perfeito.
Cada palavra em seu lugar,
como as pétalas nas flores
e as tintas no arco-íris.
No centro, mensagem doce
E intransmitida jamais.
Houve um poema:
e era em mim que surgia, vagaroso.
Já não me lembro, e ainda me lembro.
As névoas da madrugada envolvem sua memória.
É uma tênue cinza.
O coral do horizonte é um rastro de sua cor.
Derradeiro passo.
Houve um poema.
Há esta saudade.
Esta lágrima e este orvalho – simultâneos –
que caem dos olhos e do céu.”
*Cecília Meireles*
Em “Poesias Completas de Cecília Meireles, Viagem, Vaga Música”, Rio de Janeiro,
Editora Civilização Brasileira - MEC, Volume 2, 1973.
(penúltima obra publicada, “Metal rosicler”, Canto XLIV, 1960)
Houve um poema,
entre a alma e o universo.
Não há mais.
Bebeu-o a noite, com seus lábios silenciosos.
Com seus olhos estrelados de muitos sonhos.
Houve um poema:
Parecia perfeito.
Cada palavra em seu lugar,
como as pétalas nas flores
e as tintas no arco-íris.
No centro, mensagem doce
E intransmitida jamais.
Houve um poema:
e era em mim que surgia, vagaroso.
Já não me lembro, e ainda me lembro.
As névoas da madrugada envolvem sua memória.
É uma tênue cinza.
O coral do horizonte é um rastro de sua cor.
Derradeiro passo.
Houve um poema.
Há esta saudade.
Esta lágrima e este orvalho – simultâneos –
que caem dos olhos e do céu.”
*Cecília Meireles*
Em “Poesias Completas de Cecília Meireles, Viagem, Vaga Música”, Rio de Janeiro,
Editora Civilização Brasileira - MEC, Volume 2, 1973.
(penúltima obra publicada, “Metal rosicler”, Canto XLIV, 1960)
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