domingo, 16 de março de 2014

[...]
 
Quando vocês crescerem e lerem este Capítulo de Cervantes,
hão de achá-lo engraçadíssimo – e ao mesmo tempo triste. A loucura é a coisa mais triste que há…
– Eu não acho – disse Emília.

 – Acho-a até bem divertida.
E, depois, ainda não consegui distinguir o que é loucura do que não é.
Por mais que pense e repense, não consigo diferençar quem é louco de quem não é.
Eu, por exemplo, sou ou não sou louca?
– Louca você não é Emília – respondeu Dona Benta.
– Você é louquinha, o que faz muita diferença.
Ser louca é um perigo para a sociedade; daí os hospícios onde se encerram os loucos.
Mas ser louquinha até tem graça.
Todas as crianças do Brasil gostam de você justamente por esse motivo – por ser louquinha.
– Pois eu não quero ser louquinha apenas – disse Emília.
– Quero ser louca varrida, como D. Quixote, como os que dão cambalhotas assim…
E pôs-se a dar cambalhotas na sala.
” 
      
[...]   

*Monteiro Lobato*

 Em, “Dom Quixote das Crianças”, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1936.

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