sexta-feira, 26 de junho de 2015

Eu vi uma rosa

Eu vi uma rosa
− Uma rosa branca −
Sozinha no galho.
No galho? Sozinha
No jardim, na rua.

Sozinha no mundo.

Em torno, no entanto,
Ao sol de meio-dia,
Toda a natureza
Em formas e cores
E sons esplendia.

Tudo isso era excesso.

A graça essencial,
Mistério inefável
− Sobrenatural −
Da vida e do mundo,
Estava ali na rosa
Sozinha no galho.
Sozinha no tempo.

Tão pura e modesta,
Tão perto do chão,
Tão longe na glória,
Da mística altura,
Dir-se-ia que ouvisse
Do arcanjo invisível
As palavras santas
De outra Anunciação.
”    

*Manuel Bandeira*
Em “Estrêla da vida inteira − poesias reunidas”, Rio de Janeiro, 
Editora José Olympio, 15ª Edição, 1988.

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