terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Estátua

Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, − frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.

Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.

E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre o mármore correcto
Desse entreaberto lábio gelado...

Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.


*Camilo Pessanha*
EmClepsidra e poemas dispersos”, Sintra/Portugal, Editora Publicações Europa-América, 
Coleção Livros de Bolso 502, págs. 23/66, 1987.

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