domingo, 17 de julho de 2016

Juvenília 

[...]

VII

Ah! Quando face a face te contemplo,
E me queimo na luz do teu olhar,
E no mar de tu´alma afogo a minha
E escuto-te a falar;

Quando bebo no teu hálito mais puro
Que o bafejo inefável das esferas,
E miro os róseos lábios que aviventam
Imortais primaveras,

Tenho medo de ti!... Sim, tenho medo,
Porque pressinto as garras da loucura,
E me arrefeço aos gelos do ateísmo,
Soberba criatura!

Oh! Eu te adoro como adoro a noite
Por alto mar, sem luz, sem claridade,
Entre as refegas do tufão bravio
Vingando a imensidade!

Como adoro as florestas primitivas,
Que aos céus levantam perenais folhagens,
Onde se embalam nos coqueiros presas
As redes dos selvagens!

Como adoro os desertos e as tormentas,
O mistério do abismo e a paz dos ermos,
E a poeira dos mundos que prateia
A abóbada sem termos!...

Como tudo que é vasto, eterno e belo;
Tudo o que traz de Deus o nome escrito!
Como a vida sem fim que além me espera
No seio do infinito!


[...]

*Fagundes Varela*
Em 
Poesias Completas de Fagundes Varela, São Paulo, Editora Saraiva, 2ª Edição, 1962.

Nenhum comentário: